9 de junho de 2008

A chama do Dragão

Renata Monteiro
Graduanda de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
renatamgadelha@hotmail.com


O Dragão, segundo a mitologia chinesa, foi um dos quatro animais sagrados convocado para a criação do mundo. Uma das lendas conta que foi a carpa, querendo atingir o topo da montanha e superando o obstáculo das correntezas e cachoeiras, que se transformou em dragão. No ocidente, o Dragão é uma junção de vários animais místicos: olhos de tigre, corpo de serpente, patas de águia, chifres de veados, orelhas de boi, bigodes de carpa... e sempre associado ao fogo que destrói, mas permite o nascimento do novo.
Seja no oriente como água, ou no ocidente como fogo, o Dragão carrega o significado da força de vontade, superação de obstáculos, transformação, sabedoria, sucesso...
Aqui no Ceará, misto de água e fogo, temos Dragão do Mar, que foi símbolo de força, vontade e superação. Jangadeiro que se recusou a transportar escravos. Então, com tanta força no nome, será que estamos honrando a arte Dragão? A arte feita de sabedoria, superação, transformação, força e beleza. Ou nos rendemos à simplesmente sermos levados pelas correntezas e cachoeiras?
O Ceará cresce como pólo gerador de roupa, mas não como pólo gerador de moda. Conformamos-nos em estar entre os últimos colocados na corrida por um estilo. Porque os pólos geram a moda, que chega ao Brasil já “observada” – vulgo, copiada- pelos olheiros brasileiros, e será re-lançada em grandes eventos de São Paulo e Rio de Janeiro e, por “quase-último” vem ser re-exibida no Ceará. Repito, re-exibida. Não ressignificamos, simplesmente repetimos o que já foi mostrado. Não inovamos muito, a não ser no “mostruário”, que muitas vezes também vem importado de São Paulo. Se “Vale a pena ver de novo” fosse melhor do que novela nova não iria passar à tarde e sim em horário nobre.
Então qual a imagem que temos de última moda no Ceará? Blusas com mangas 3/4, calças compridas cheias de apetrechos e coturnos? Casacos com plumas e botas de camurça? Meninas magérrimas, loiras e de olhos azuis? Cadê nosso regionalismo? Não digo renda, nem chita. Digo moda bela e útil para o nosso clima; digo beleza em nossas baixinhas de cabelos negros e olhos de jabuticaba.
Me canso também das pessoas representarem Nordeste só com couro e chapéu de vaqueiro. Porque somos isso, mas também somos mais do que isso. Temos a capacidade de criar texturas e formas inovadoras, mas nos retemos em meras “imagens caricaturadas”. Podemos honrar nossa terra também sendo diferente. Paradoxo? Ser regional, mas não ser regional? Quase. Sugiro um regional inovador. Nada de figuras manjadas. Sinto necessidade de revolução. Uma moda que não seja simplesmente copiada de outro canto e sim que seja criativa, usando tendências e o que temos – e olhe que não é pouco. Que usemos o dragão ocidental, junção de vários, porém um ser único.
Estudamos para de carpas nos transformarmos em dragões e em algum momento nos perdemos. Falta a força para lutar contra a correnteza e determinação para subir a cachoeira. Aos que inovam? Pedras. Porque como explicar aos olhos coisas que o cérebro não mais entende?
Por isso simplesmente indico: às carpas: metamorfose; aos dragões: perseverança; à mim: paciência.