9 de junho de 2008

Moda como fenômeno social

Fashion as a social phenomenon
Katiana Lopes Galdino
Graduanda de Estilismo e Moda
Universidade Federal do Ceará
kati.bb@hotmail.com



Resumo
A moda deve ser entendida como fenômeno social, responsável por mudanças importantes que ocorreram nas sociedades onde se desenvolveu, refletindo-a nos processos pelos quais passou. Acompanhando da evolução da história, consegue-se saber quando a moda aparece, porque aparece e qual sua finalidade. A partir desse estudo pode-se entendê-la não apenas como mudança de trajes ao passar dos tempos, mas como mecanismo de transformação das raízes sociais e psicológicas.



Palavras-chave: Moda, sociedade, história, indumentária, transformações, efemeridade.


Abstract
The fashion should be understood as social phenomenon, responsible for important changes that have occurred in society which was involved directly and the processes by which passed. Through the evolution of history, able to know when the fashion shows, because they appear and what their purpose. From this study we can see it not only as changing costumes to the passing of time, but as a mechanism for transforming the social and psychological roots.

Key works: Fashion, society, history, clothing, processing, efemeridade



A moda - fenômeno de algumas sociedades

A moda propriamente dita, com seu papel de mudanças bruscas, renovação da forma e da aparência, surge no final da Idade Média, tendo raiz no ocidente moderno, e apenas lá surge e se afirma para depois, e muito depois, se tornar um fenômeno global.
Através da história do vestuário foi possível fazer pesquisas que revelaram os feitos da moda na sociedade, constatando-se, desde seu surgimento no ocidente, que ela é desprovida de conteúdo próprio, e, a cada instante, bruscamente ou não, muda. Primeiramente e principalmente no vestuário até o século XIX e XX, centrou seu foco no feérico das aparências.
É importante compreender como essa transição da tradição para a efemeridade da moda se desencadeou. Em que ela mudou a vida social e como ocorreu esse processo, para que o entendimento a cerca de moda como fenômeno social seja compreendido, aceito e discutido com o valor e peso merecido.
Durante milhares de anos, a humanidade viveu sem jogos de frivolidades e mudanças incessantes. Os homens ditos primitivos, apesar de se ornamentarem e mudarem os trajes em cerimônias não pode ser considerado, nesse momento, como moda. Eles eram ligados ao respeito pelo passado, pelos costumes e tradições antigas, organizados a não aceitarem uma dinâmica de mudanças à dependência de um passado mítico, daí a moda não ter se instalado nas civilizações ditas ‘selvagens’.
Para que a moda possa aparecer é necessário que os homens tenham autonomia de mudanças na sociedade para libertarem-se dos costumes de antes e o desejo e autonomia na estética. O estado e a divisão de classes foram peças para o surgimento da moda e tudo o que trás de mudanças na sociedade. Nem sempre o contato com povos externos, trazendo destes alguma influência, não introduzia mudanças substanciais que modificassem a estrutura da sociedade. A moda acontece quando a curiosidade pelo novo torna-se um traço cultural autônomo. Assim, os gostos pelas inovações e jogos de frivolidades começam a fazer parte da vida social.
A moda aparece na metade do século XIV, com um tipo novo de vestuário, curto e ajustado para o homem e longo e justo exaltando a feminilidade da mulher. Sendo uma revolução do vestuário, as bases do traje moderno. A maior diferença, desde então, entre os trajes masculinos e femininos, difundindo-se entre por toda a Europa ocidental. A partir desse momento, a mudança constante tornou-se regra da alta sociedade, com suas fantasias, decorações, exageros e ostentações efêmeras, frívolas e prazerosas. Na idade média os ritmos de mudanças foram bem menores e espetaculares do que no século das luzes (Iluminismo), esse extremamente incessante. No fim da idade média já surgem crônicas a respeito das rápidas mudanças nos trajes e sua cronologia, assim como livros que relatavam as mudanças passageiras no vestuário.
Um escritor da França no século XVI, Montaige afirma que: “Nossa mudança é tão súbita e tão rápida nisso que a invenção de todos os alfaiates do mundo não poderia fornecer novidades suficientes”.
Já no século XVII, a efemeridade nas mudanças dos gostos são criticadas em obras, sátiras e opúsculos. “Evocar a versatilidade da moda tornou-se uma banalidade” (LIPOVETSKI,1997, p.31). A moda e suas mudanças efervescentes eram tidas como objeto de questionamento, espanto, fascínio e encanto.


Mudanças de moda – há algo mais sob as aparências

Apesar da incessante mudança da moda, ela não muda por inteiro. As mudanças mais rápidas são em ornamentos e acessórios, nos pequenos detalhes, enquanto a estrutura e as formas gerais do vestuário são mais perenes. Com a moda e nos detalhes mudando rapidamente, cresce um dispositivo de distinção social. Ele classifica, exclui, une pessoas e grupos e caracterizam a moda.
A moda não é marcada somente pelas mudanças constantes, lúdica e frívola, do gosto pelo novo. Mas marca uma nova forma de socialização, a mudança que era imutável, a crença e continuidade de costumes dos antepassados. O antigo deixa de ser venerado e o presente inspira respeito, desejo e mudanças. Com a moda a soberania e autonomia do homem são exercidas no mundo e na estética de parecer e aparecer.
Para se entender o fenômeno “Moda”, como um fenômeno cultural, social e sua evolução não apenas em trajes, mas como uma forma de distinção, de evolução na democracia no vestir, marcando assim os momentos importantes pelo qual a sociedade passou, é necessário procurar na história das sociedades seu surgimento, sua necessidade e importância para que novos caminhos pudessem surgir, solificarem-se, mudarem novamente, agora com uma intensidade enorme e cada vez mais e mais.
A moda, um acontecimento que modificou os trajetos da sociedade de uma forma tão brusca, deve deixar de ser encarada como simples mudança de trajes, ainda para alguns, e ser concebida como fenômeno ao qual se enquadra. Para isso, é necessário que os estudos científicos em moda alcancem mais lugares, mais pessoas, e que comece a ser difundida como um fato histórico e social.
A moda hoje está se iniciando no mundo científico, já alcançou um patamar de respeito se comparada a simples futilidade de outros tempos, mas ainda há muito a caminhar para que ela deixe de ser aceita apenas para uns e se insira como aspecto fundamental de mudança social, psicológica e analítica.


Referências Bibliográficas:
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Cia das Letras, 1997